lygia clark

{A obra de Lygia Clark cria uma perspectiva original de abordagem de uma questão que atravessa a arte moderna desde o início: reconectar arte e vida, criando “objetos vivos”, onde se entrevê a potência vital que tudo agita.

Num primeiro momento (1950-63), sua investigação migra do plano, ao relevo e, deste, ao espaço (os Bichos). Inserida no assim chamado Movimento Neoconcretista, esta parte da obra é mais digerível pelo sistema da arte e, porisso, mais conhecida. Embora já aqui tenha início a participação do espectador, o objeto ainda pode ser passivamente contemplado.

A partir de Caminhando (1963), a obra radicaliza-se a tal ponto, que permanece, ainda hoje, como um enigma indecifrável. Deste momento até o final de sua vida (1988), o problema de Lygia será o de iniciar o espectador à visão da vida nas coisas, sem o que a conexão arte/vida não se realiza. Sua investigação se concentrará então no próprio espectador, migrando do ato, ao gesto, ao corpo, à relação entre os corpos, para no final, dirigir-se à subjetividade.

Em sua última obra, a idéia de Lygia Clark realiza-se plenamente: inventando os Objetos Relacionais, através dos quais opera a Estruturação do self, Lygia oficia um ritual de iniciação a esta visão. O fruidor desloca-se efetivamente de seu lugar de espectador (da obra de arte, mas também da vida): a arte conecta-se efetivamente com a vida, como dimensão fundamental do processo de subjetivação, seu princípio criador.

Através da obra de Lygia Clark produz-se o personagem que deveria substituir o espectador na cartografia criada pela arte moderna. Uma resposta poderosa é oferecida aos impasses que se colocam à subjetividade contemporânea, para cuja constituição o princípio identitário tornou-se inoperante. Completa-se, assim, o projeto moderno
}.

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